Era água que não acabava mais. Só faltaram relâmpagos e trovões.
Você partiu hoje, não avisou a ninguém.
Essas coisas ninguém avisa mesmo, precisamos compreender.
Nós nunca nos vimos, não da forma mais tradicional. Eu sempre te via, enquanto você apenas percebia o vulto e as cores de minha roupa. A cor da voz, entre as fotos que descrevi para você de vez em quando.
Nas horas vagas, que paradoxalmente coincidia com os horários de trabalho, foram muitos momentos de exercícios filosóficos.
Na pauta tínhamos religião, a atividade de professor, a profissão de jornalista, os meandros da vida de fotógrafo, nosso trabalho e muitos outros, sempre girando em torno da ética e dos valores morais.
A luz do fim de tarde era linda, você não viu. E partiu.
Fiz estas fotos como homenagem. Era linda a tarde que partia.
Tenho certeza, de onde nos vê agora, pode também ver estas fotografias.
Você se foi, e o sol sai de cena cabisbaixo, deu-lhe de presente, mais alguns raios, partiu, saiu por último e apagou a luz.