Um olhar perdido, e firme, em preto e branco, me deparo com a fotografia de minha mãe na estante.
Eu a coloquei lá e sempre me assusto com a certeza que não a verei mais, pelo nesta vida como nossos olhos vêem e alguns acreditam, talvez em um outro momento, outra dimensão, poderei lhe dar os abraços que aqui não dei.
Ela se foi, deixou suas palavras, lembranças, lições e as imagens que captei com minha câmera.
O sol brilha e muitos dias vieram desde aquele dia em que a fotografei, e outros tantos passaram desde sua partida. Mas a lembrança não é algo abstrato a viver em minha mente, é uma fotografia, e outras tantas, colocadas em minha estante.
O lugar ainda está lá, o sol continua passando por sobre a paisagem todos os dias, mas ela nunca mais passará.
Eu tenho uma fotografia de minha mãe naquele bosque. Pouco me lembro daquele passeio, tenho sua fotografia na estante.
Curiosamente seu olhar para a direita da imagem, aponta para frente, segundo a leitura ocidental, para o futuro, que nem ela sabia, mas que viria, veio e a levou.
Hoje dia de finados, eleito para lembrarmos de lembrar daqueles que dizemos nunca esquecer, me lembro dela mais uma vez, pela falta que me faz, pela fotografia na estante.
Uma fotografia na estante é um calor e um corte no peito a sangrar saudades e lágrimas.
As palavras traduzem mas a imagem registra. Escondo-me em minha solidão onde minhas máquinas espreitam e observam inertes, sem meus dedos e meus olhos a lhe objetivarem a existência, selecionando a realidade que me toca e recorta minha existência.
Fotografias são pontes, elas nos remetem a lembranças, fatos, emoções, ou mesmo ao puro prazer estético de vê-las.
Fotografias alimentam nosso peito e nosso ser.
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